Já tem quase um mês que me mudei de bairro ficando bem longe da igreja que gostava de frequentar. Como estava sem tempo ainda não tinha procurado minha nova casa para estar com meus irmãos e meu papai. Parece simples encontrar uma igreja, já que tem uma em cada esquina atualmente, mas uma igreja que toque seu coração, que compartilhe dos mesmos pensamentos teológicos, uma igreja que faça você chegar ao pai pode ser mais complicado de achar que parece.
Na semana passada minha avó já tinha puxado minha orelha dizendo, você precisa encontrar uma igreja por aqui para você se tornar membro, mas e a preguiça de ir de igreja a igreja, de domingo a domingo para encontrar aquela que tocasse meu coração?
Ciente da razão que minha avó tinha, coloquei na minha cabeça que começaria a procurar uma igreja pra mim, aqui perto, de fácil acesso e que Deus me ajudasse, já orava por isso.
No sábado a noite iria ficar em casa mas descobri que uma banda de rock, não cristão, que gosto muito iria tocar na Lapa no Rio de Janeiro. Colegas meus iriam e a banda jamais havia tocado no Brasil e a possibilidade de tocar novamente é quase remota, pelo menos ao meu ver. Decidi ir ao show, independente de preconceitos, nem nada… Amo música, tenho colegas que não são cristãos como eu e não vejo nenhum problema em ver trabalhos de músicos, eu disso músicos – não levitas, tocando ao vivo em companhias simpáticas e agradáveis. E eu, não estava ali pra evangelizar mesmo, estava para ter momento de diversão, de descontração, e ver uma das bandas da minha adolescência que tinha muita curiosidade de saber como era ao vivo.
A banda era o Stone Temple Pilots, que eu conheci a uns 15 a 16 anos atrás por muitos falarem que era parecido com Pearl Jam, uma das minhas bandas favoritas na adolescência.
Hoje tenho 28 anos, sou cristã, muitas das minhas referências de louvores que mexem comigo possuem uma pegada rock ou pop que foi a referência musical da minha adolescência, mas nunca me senti impedida de, por ter mudado tanto, não ver ao vivo shows das bandas que mexerem comigo a mais de uma década atrás. Tudo bem que naquela época era bem capaz de eu ficar na beirada do palco me esguelando, acho que essa é a principal diferença atual, vou pra ver músicos tocarem, músicas saudosas de outrora e ponto final.
Qual não foi minha surpresa ao entrar no táxi a caminho do show e ele me pergunta pra onde vou. Digo veementemente, Circo Voador na Lapa… Com um comentário evangelístico (assim eu pensava anteriormente) este motorista me fala, você sabe que Deus tem coisa melhor pra você que ir para shows numa noite de sábado.
Feliz em ver que um servo do Senhor evangelizava no táxi falei pra ele que eu sou cristã também e que entendia seu comentário e que concordava mas, seguidamente expliquei tudo o que acima descrevo. Depois disso o homem gritava, dizia que ele era profeta, que eu não tinha o espírito de Deus em mim, que se eu não estava indo evangelizar que eu não era cristã nada… Que rock foi feito pelo diabo e para o diabo, que não existe louvores com rock, que isso é armadilha de Satanás. Que não poderia ser batizada, que o peso do Senhor iria cair sobre mim e sobre os líderes que me batizaram. Comecei a orar, a dizer que Deus iria ter misericórdia da vida dele por me julgar e julgar o Espírito que habitava e habita em mim, que ele não poderia julgar a conversão do irmão… Falava calmamente. Ele gritava me condenando ao fogo do inferno. Paguei o moço, saltei do táxi no lugar combinado e ele continuava gritando dizendo que eu estava no mais graves do pecados, que eu iria pagar por isso.
Decidi abstrair, me diverti vendo o show. Sentei com meus amigos num bar, bebi água, conversei e pegamos um táxi na volta. Por mais incrível que pareça, não contei nada do acontecido a ninguém, não queria denegrir a imagem dos cristãos e fomentar um papo com pessoas que não reconhecem a soberania de Jesus, por um ato que eu passei. Meu papel ali não era esse e engoli a seco essa história. Quando voltamos, coincidentemente (ou cristocidentemente) o taxista estava com a rádio ligada numa rádio evangélica e só tocaram louvores que eu conhecia muito bem… Os cantei com ardor na volta, minhas colegas no banco de trás, não sendo cristãs, mas sabendo sobre minha crença, nada falaram. Elas foram deixadas primeiro e quando o taxista me deixou falou, bom ver alguém louvando a Deus independente do que possam falar e sem vergonha do Deus que serve.
Dois taxistas, um na ida e outro na volta, duas posturas, duas questões.
Hoje, no domingo, era o dia de buscar minha nova igreja. Já sabia de uma que me interessava mas mesmo assim decidi publicar nas minhas redes sociais, eis que um colega, esse com a mesma crença que eu, indica uma igreja na esquina, literalmente, da minha nova casa e eu decidi visitá-la primeiro, sem saber o que viria.
Uma das coisa que o taxista da ida do show mais reclamou foi da minha vestimenta ao show. Uma blusa com os ombros a mostra, minha tatuagem que fiz na adolescência, também a mostra, e uma saia um palmo e pouco acima do joelho. Não vi problemas com minha roupa mas depois que ele falou fiquei realmente constrangida, será que parecia realmente uma prostituta?
Decidi então, ir a igreja aconselhada por esse colega com a mesma roupa que fui ao show ontem. Se iria entrar para uma nova igreja que, pelo menos, eles não agissem como aquele rapaz. Afinal, aquela seria minha nova família em Cristo.
Cheguei realmente envergonhada, com medo de ter alguém ali igual aquele taxista mas fui tratada com um amor indescritível. Me ofereceram um cafezinho que tinha acabado de sair antes do culto, perguntaram meu nome, se era a minha primeira vez ali… Comecei a me sentir em casa.
De repente começam os louvores, todos que amo… Alguns antigos, que mexem muito comigo, outros com a pegada rock de alguns levitas que eu amo, mas em estilo acústico, voz e violão. Resumindo: Perfeito pra mim.
Chorei, me emocionei, fui imensamente edificada com a palavra. E qual era o tema da palavra? Parábolas: O bom samaritano e a do servo impetuoso. Na mesma hora percebi que eu tinha gerado uma mágoa perante aquele taxista, que ele agiu comigo como aquele servo, me pegando pelo pescoço e me condenando e meu coração havia se enchido de raiva pelas palavras e julgamentos dele.
No final tivemos a Santa Ceia e eu pedi perdão a Deus por ter enchido meu coração de raiva pelas palavras dele e por não ter entendido que a fé dele é assim e que, talvez, ele se cobre tanto quando cobrou de mim e que, talvez, ele precise disso pra estar com Deus.
Agora chego em casa com o coração tão limpo e tão leve que digo, achei minha igreja, achei meu lugar.
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